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Prêmio Fundação Bunge

Conheça Carlos Crusciol, contemplado do PFB 2022

09 de novembro de 2022
GER 2893

Prêmio Fundação Bunge 2022

Inteligência Artificial e Uso das Águas e do Solo – Vida e Obra

Premiado:  Carlos Crusciol

“É possível produzir alimentos de forma mais sustentável e regenerativa no Brasil; há caminhos para consolidar uma lavoura mais eficiente e que utiliza menos insumos”

A carreira do pesquisador Carlos Alexandre Costa Crusciol é marcada por reviravoltas interessantes. Nascido em José Bonifácio, pequeno município no noroeste do estado de São Paulo, filho de um pai agricultor e uma mãe professora, ele cresceu com o sonho de ser veterinário, mas acabou mudando de planos por mera contingência. Após dois anos tentando entrar no curso de Medicina Veterinária, decidiu prestar o vestibular para Agronomia, à época menos concorrido, e passou.

Não que a escolha fosse aleatória: ele sempre quis uma carreira relacionada ao campo e à natureza. O fato é que na Agronomia ele encontrou sua real vocação. Carlos concluiu a graduação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) de Ilha Solteira e decidiu seguir carreira acadêmica. Na Unesp de Botucatu, realizou mestrado, doutorado e livre-docência. O pós-doutorado viria em 2012, pela Universidade da Flórida, nos EUA.

Tornou-se professor titular da Unesp de Botucatu extremamente jovem, aos 41 anos. Ele conta que sua primeira turma chegou a confundi-lo com um veterano se passando por professor para pregar uma peça nos calouros. É também bolsista de produtividade do CNPq desde 2000, membro do conselho editorial da European Journal of Agronomy, revista oficial da Sociedade Europeia de Agronomia, e membro do Integrated Crop-Livestock Systems Network, pertencente à Global Research Alliance, dedicada ao estudo das emissões de gases do efeito estufa pela atividade agrícola ao redor do mundo.

Sua escolha pela área de conservação dos solos também contou com um empurrãozinho do destino. Carlos começou a carreira de pesquisador na área de vegetais, mas, incentivado por um professor, decidiu embarcar em um projeto da Unesp para desenvolver técnicas de plantio direto, como se nomeia a aplicação de sementes no solo não revolvido.

Com isso, ele migrou para a área de correção de acidentes do solo, e passou a mergulhar em temas como agricultura regenerativa e rotatividade de culturas. Melhor para a ciência brasileira: começava assim uma longa carreia dedicada ao desenvolvimento de estratégias sustentáveis de preparação e conservação dos solos.

Carlos explica que mais de 95% da água consumida por uma planta serve para “resfriar” sua estrutura. Logo, se tornarmos esse processo de hidratação mais eficiente, não apenas economizamos água, como potencialmente tornamos a planta mais resistente a picos de temperatura ou períodos de seca, o que, frente às mudanças climáticas, é cada vez mais importante para viabilizar a agricultura em muitas regiões.

Um caminho promissor tem sido a aplicação de calcário no solo em quantidades maiores que as tipicamente usadas. Desse modo, substâncias como o cálcio e o magnésio são depositadas também no solo profundo, viabilizando ali o crescimento de raízes. Essas raízes, por sua vez, conseguem captar a água subterrânea, diminuindo a necessidade de irrigação da lavoura.

As plantas que crescem nessas condições provaram-se não apenas mais “econômicas” no consumo de água, como também capazes de sequestrar carbono da atmosfera com mais eficiência. Há ainda uma questão estratégica: o calcário está disponível em todo o Brasil, o que potencialmente nos torna menos dependentes das importações de insumos sintéticos.

A principal pesquisa desenvolvida pelo professor Crusciol completou neste ano duas décadas de existência. Ela inova não apenas pelas quantidades atípicas de substâncias como o calcário, mas também por produzir dados sobre processos como a calagem e a gessagem, muito antigos na lavoura e, por isso mesmo, pouco estudados cientificamente. Por sua relevância e longa duração, o trabalho chamou a atenção da Rothamsted Research, na Inglaterra, instituição de pesquisa agrícola mais antiga do mundo, com experimentos iniciados na década de 1840.

Além de desenvolver pesquisas como essa, Carlos dirigiu vários departamentos da Unesp e atua em instituições de ensino nos Estados Unidos e na Europa. Ele também publicou 357 artigos científicos, quatro livros e mais de vinte capítulos de livros. São feitos notáveis, que o qualificam plenamente para o Prêmio Fundação Bunge 2022 dedicado a trabalhos sobre Uso das Águas e do Solo, na categoria “Vida e Obra”.

Assim, graças ao chamado da verdadeira vocação e, em alguma medida, à força do acaso, o Brasil perdeu um veterinário, mas ganhou em troca um dos cientistas mais talentosos e inovadores de sua geração, autor de contribuições inestimáveis à agricultura do país.

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