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Prêmio Fundação Bunge

Conheça Bernardo Moreira Cândido, contemplado do PFB 2022

09 de novembro de 2022
GER 5302

Prêmio Fundação Bunge 2022
Inteligência Artificial e Uso das Águas e do Solo – Juventude
Premiado: Bernardo Moreira Cândido

“No Brasil e no mundo, precisamos desenvolver uma visão mais integrada sobre a importância do solo e da água para a sobrevivência do ser humano”

O que o monitoramento de vulcões tem a ver com a agricultura brasileira? O trabalho pioneiro de Bernardo Moreira Cândido, vencedor na categoria Juventude do Prêmio Bunge 2022 em Inteligência Artificial e Uso das Águas e do Solo, nasceu de uma conexão inusitada entre esses universos aparentemente tão díspares.

Bernardo iniciou sua trajetória acadêmica na Universidade Federal de Uberlândia e depois transferiu-se para a Universidade Federal de Lavras, onde se formou agrônomo e fez também seu mestrado. Nascido em uma família mineira sem vínculos diretos com o meio rural, ele conta que seu interesse pela carreira nasceu ainda no ensino médio, ao perceber que o curso de agronomia juntava algumas de suas matérias favoritas – geografia, química e biologia – em uma única área, com boas perspectivas profissionais.

Na faculdade, aprendeu outras duas importantes lições. Em primeiro lugar, que a agronomia não se limitava aos problemas de produtividade da lavoura, mas que ela também o habilitava para atuar na questão ambiental. Em segundo, que ela podia abarcar campos como a estatística e a ciência de dados, mais adequados ao seu perfil.

Isso também tocou em um problema que o inquietava desde o início: a precariedade dos dados referentes à degradação ambiental e, especialmente, à conservação dos solos. No Brasil e no mundo, métodos de análise arcaicos e pouco precisos ainda servem de base para políticas públicas referentes ao meio ambiente. “Se em áreas como a medicina ou a economia temos avanços tecnológicos constantes e uma busca por dados cada vez mais precisos, por que não trazer essa mentalidade para a lavoura?”, questiona ele.

Essa foi sua motivação durante o doutorado. Bernardo contatou alguns dos maiores especialistas do mundo em monitoramento de solos e, aproveitando um programa de parceria, realizou um doutorado “sanduíche” entre a Universidade de Lavras e a Universidade de Lancaster, no Reino Unido.

É aqui que os vulcões entram na história. Os britânicos haviam desenvolvido uma tecnologia de monitoramento dessas estruturas com base em fotogrametria, isto é, a medição de um terreno pela combinação de milhões de imagens feitas com drones. A técnica era usada para prever erupções e acompanhar mudanças no relevo.

Bernardo teve a ideia de adaptar essa mesma tecnologia à realidade lavoura, usando drones para monitorar a erosão dos solos. Até hoje, esse acompanhamento é feito tipicamente por “amostragem” – uma porção do terreno é cercada para que os cientistas possam medir o quanto de solo é perdido para as intempéries climáticas; os resultados obtidos são extrapolados para todo o restante do terreno.

O método pioneiro desenvolvido por Bernardo em seu doutorado, com o uso de algoritmos e de inteligência artificial a partir das imagens obtidas pelos drones, abriu a possibilidade de monitorar a evolução de um local ao longo do tempo com muito mais precisão e riqueza de informações, inclusive com a modelagem em 3D do terreno.

Além de ser único no Brasil, seu trabalho rende frutos do outro lado do Atlântico, mais especificamente no Mali. Desde 2019, Bernardo participa de um programa da ONU voltado a ampliar a produção de algodão daquele país africano. Lá ele tem a chance de pôr em prática a tecnologia que ajudou a criar.

Bernardo é pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), colaborador do projeto Global Challenge Research Fund, mantido pelo governo do Reino Unido, e trabalha hoje para expandir a aplicação de drones para além da área de conservação dos solos e da água.

Ele vem testando, por exemplo, o uso de sensores mais sofisticados nos drones, ao invés de câmeras. Com isso, é possível medir os níveis de irrigação e adubação de uma lavoura, identificar falhas no plantio e muito mais. Esses sensores também permitem monitorar o solo em plantações de copa densa, nas quais não se enxerga o terreno em vista aérea. Drones também vem sendo testados na coleta de amostras de solo, dispensando a presença de humanos em áreas potencialmente contaminadas.

A partir deste ano, Bernardo continua sua trajetória nos Estados Unidos, como professor e pesquisador na Universidade do Missouri. Conquistas como essa refletem uma meta que ele estabeleceu para si mesmo há alguns anos: “gosto de estar no meio dos melhores, aprendendo com eles, mas sentir também que posso contribuir com algo de fato relevante para aquele campo”, explica. A busca constante pela inovação é uma marca inequívoca na carreira desse jovem e brilhante pesquisador brasileiro.

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