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Ciências Exatas e Tecnológicas: Inteligência Artificial e o Uso das Águas e do Solo

Fazendo par a um tema das Ciências Agrárias ("Crédito de Carbono e Agricultura Regenerativa"), a 66 a edição do Prêmio Fundação Bunge escolheu evidenciar, em 2022, outro tema que, oriundo do campo das Ciências Exatas e Tecnológicas, também tem implicações diretas na forma como se pratica a agricultura no século XXI: "Inteligência Artificial e o Uso das Águas e do Solo".

A escolha ressalta a centralidade do desafio que a Fundação Bunge vê como um dos maiores e mais críticos da atualidade: o de produzir alimentos e outros bens essenciais para uma população que poderá chegar a quase 10 bilhões de pessoas até a metade do século, com a mínima e mais racional utilização dos recursos naturais do planeta. Trata-se de tarefa que envolve conhecer, analisar e aplicar uma imensidão de dados e variáveis na tomada das melhores decisões para cada localidade específica, a cada momento – algo que nenhum sistema humano seria capaz de desempenhar tão bem, mas que, com a ajuda de tecnologias e infraestruturas criadas pelo homem, é possível realizar.

"Se o primeiro tema do Prêmio Fundação Bunge deste ano abre espaço para reflexões importantes sobre a caracterização e a complexidade de um mercado de carbono regulado no mundo, creio que, com este tema, poderemos explorar soluções concretas e factíveis que já podem ser aplicadas hoje." A afirmação é da matemática Thelma Krug, vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), pesquisadora aposentada do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e integrante do Conselho Administrativo da Fundação Bunge.

De fato, tecnologias como monitoramento por satélite, sensores de análise química de solo, drones e veículos agrícolas autônomos, tudo conectado à internet 24/7, já são consideradas o futuro da agricultura – embora sua adoção nas lavouras brasileiras ainda enfrente barreiras, como, por exemplo, a baixa conectividade em áreas remotas. Segundo levantamento da consultoria McKinsey de maio de 2020, sobre "A Mente do Agricultor Brasileiro na Era Digital", apenas 23% dos nossos produtores têm acesso completo à internet em todas as suas operações agrícolas; um número que cai para meros 13% em setores-chave como os agrupamentos de grãos do Cerrado e da região de Matopiba. O que é mais uma razão, aliás, para chamar atenção para as potencialidades ainda pouco exploradas dessas tecnologias.

É a chamada Agricultura 4.0, que permite identificar e corrigir automaticamente deficiências de nutrientes nos solos, ponto a ponto, o tempo inteiro; monitorar pragas e outras ameaças e ativar medidas imediatas de controle; analisar fluxos subterrâneos de água, assim como criar modelos de previsão de condições meteorológicas (como velocidade dos ventos, intensidade de chuvas e umidade), para identificar as melhores ações a tomar; entre diversas outras soluções baseadas em centenas de variáveis que só a avançada tecnologia digital e computadores conseguem manejar.

"A Inteligência Artificial integra toda essa quantidade de dados de forma a permitir que usemos as águas e o solo da maneira mais segura, garantindo os melhores tradeoffs, os maiores benefícios", diz Thelma Krug. "No cenário de aquecimento global e de escassez hídrica que já estamos vivenciando em algumas regiões, quanta água realmente vamos poder retirar do solo? Até que ponto podemos avançar, antes que os recursos não consigam se reestabelecer?" A preocupação da pesquisadora é ainda mais justificada quando se sabe que, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), quase 80% do consumo total de água no País é para irrigação (68,4%) e abastecimento animal (10,8%).

No entanto, se é possível utilizar computadores como bússolas no oceano da big data em que vivemos hoje, é preciso sempre lembrar que confiar em máquinas é apenas outra forma de confiar em quem as criou. Faz-se necessário valorizar a ciência que as produziu e o trabalho de homens e mulheres que seguem aprimorando cálculos, técnicas e aplicações, em busca de cumprir objetivos tão fundamentais como a saúde do planeta, a segurança alimentar e o bem-estar humano.

É na condição de reconhecimento e de voto de esperança no futuro, portanto, que o Prêmio Fundação Bunge escolhe homenagear os pesquisadores brasileiros dedicados a esse tema.