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Ciências Biológicas, Ecológicas e da Saúde: Prevenção de Doenças Infecciosas

“Desde que, no Iluminismo, as pessoas se rebelaram contra o autoritarismo e começaram a usar a força da razão para melhorar suas vidas, sempre descobriram formas de fazê-lo”, escreveu o Nobel de Economia Angus Deaton, no livro A Grande Saída, de 2013, que prosseguia na previsão: “Há pouca dúvida de que isso continuará acontecendo e que permaneceremos tendo vitórias contra as forças da morte”.

No momento em que o mundo enfrenta o que certamente é uma das maiores, senão a maior ameaça à saúde humana em um século, não é preciso ignorar ou menosprezar a gravidade do desafio para manter as esperanças. Como sabia o Nobel escocês, mais de uma vez na história da humanidade a razão e a Ciência provaram ser as armas mais apropriadas e, no fim das contas, bem-sucedidas no combate a inimigos invisíveis como o atual coronavírus (Sars-CoV-2).

Hoje, novamente essa confiança na Ciência se mostra justificada, com um exército de homens e mulheres por todo o planeta já tendo logrado importantes vitórias na batalha contra a COVID-19 – especialmente, a primeira vez em que o mundo foi capaz de produzir uma vacina para uma nova pandemia em menos de um ano desde a identificação do agente causador da doença.

Não poderia ser mais apropriado, portanto, que a Fundação Bunge tenha escolhido a Prevenção de Doenças Infecciosas como uma das áreas de onde sairão dois dos homenageados com o Prêmio Fundação Bunge deste ano. Até porque o Brasil tem participações importantes nesse histórico de vitórias.

Como nota o médico, ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências e membro do Conselho Administrativo da Fundação Bunge Eduardo Moacyr Krieger, o Brasil já está entre os 15 maiores produtores de Ciência do mundo – 13o lugar em número de artigos publicados, de acordo com dados da Clarivate Analytics de 2018 –, e, “quando se trata de doenças infecciosas, somos um dos primeiros. Aqui, temos boa tradição de pesquisa nessa área, começando lá com Oswaldo Cruz”.

Krieger se refere, é claro, ao médico sanitarista que, à frente da Diretoria Geral de Saúde Pública (correspondente ao atual Ministério da Saúde), no início do século XX, capitaneou medidas de combate à peste bubônica, à febre amarela e à varíola. Medidas empreendidas tanto nas linhas de frente – captura de vetores (ratos e mosquitos), desinfecção de moradias e vacinação – quanto na retaguarda, nos laboratórios onde cientistas buscavam compreender os patógenos, para desenvolver as armas que eventualmente os venceriam.

Oswaldo Cruz foi o pioneiro de uma longa lista de outros heróis nacionais, cujas vidas e obras salvaram e ainda salvam milhões: de Carlos Chagas – que em 1909 descobriu a doença causada pelo protozoário (batizado em homenagem a Oswaldo Cruz) Trypanosoma cruzi, transmitido pelo inseto barbeiro – até o grupo de pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e da  Universidade de São Paulo que, em fevereiro de 2020, em menos de 48 horas após confirmado o primeiro caso da Covid-19 no Brasil, decifraram todo o código genético do novo vírus. “Esse exemplo, assim como o do surto da Zika [2015-2016], em que fomos capazes de rapidamente desenvolver testes sorológicos para diferenciar o vírus de outras infecções, mostram que já temos essa capacidade instalada”, diz Krieger.

É assim que o Brasil vem colecionando vitórias como a erradição da varíola, em 1973, e da poliomielite, em 1989, conquistadas por um dos programas de vacinação mais bem-sucedidos do mundo, o Programa Nacional de Imunizações.

No entanto, como bem aponta o psicólogo e divulgador científico americano Steven Pinker, no livro O Novo Iluminismo, batalhas como essas não são vencidas apenas com “fármacos de alta tecnologia, como vacinas, antibióticos, medicamentos antirretrovirais e vermífugos. Elas também abrangem ideias – que podem ter uma implementação barata e parecer óbvias depois que já foram concebidas, mas que salvam milhões de vidas”. Ideias como ferver ou filtrar a água, lavar as mãos e os alimentos, amamentar bebês e usar máscaras, entre outras ações simples que precisam ser adotadas por todos como hábitos cotidianos, prescritos e defendidos por meio de uma educação que faça a humanidade valorizar, apoiar e acreditar na Ciência como, em outros momentos difíceis, já acreditou.

“Precisamos combater os focos de ignorância”, diz Eduardo Krieger, que nota que “a doença não tem fronteira, partido ou religião”. É para ajudar nesse combate em favor da Ciência, da razão e da saúde, portanto, que a Fundação Bunge dedica mais uma edição do seu Prêmio Fundação Bunge.