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Covid-19 evidenciou o protagonismo do terceiro setor

06 de dezembro de 2020

* Ruy Altenfelder

As organizações da sociedade civil surgiram no Brasil por um conjunto de fatores, impulsionadas, sobretuto, por um movimento de democratização do País, em um cenário de regime autoritário. Com as migrações forçadas do campo para a cidade, a população, principalmente a mais pobre, organizou movimentos de luta por serviços e políticas públicas. Foi neste período que surgiram diversas instituições filantrópicas, como os institutos e fundações financiadas com investimento privado, que promoviam ações sociais e serviços de interesse público. 

Olhando para o presente, especialmente em um contexto de pandemia, o mundo fundacional deteve – e ainda detém – um papel imprescindível nas ações de combate ou na mitigação de impactos da Covid-19. Em termos de doações, de acordo com a fundação de pesquisas Candid, já são mais de 14 bilhões de doláres doados por pouco mais de mil indivíduos e grandes instituições em prol do combate ao vírus.

Para o Terceiro Setor, o ano foi ainda mais desafiador. Com a demanda por ajuda com pico sem igual, seu papel fez-se mais presente. Seja no fomento de doações, por meio de recursos próprios e articulando com suas empresas mantenedoras, como na adaptação de suas atividades para atender as causas urgentes decorrentes da pandemia. 

Diante de toda a conjuntura, 2020 nos mostrou que as mobilizações de solidariedade são cada vez mais necessárias e que o senso aguçado de responsabilidade social é vital. E não poderia ser diferente no ambiente corportativo. Na Fundação Bunge, entidade social da Bunge, por exemplo, a força de mais de 700 voluntários corporativos tornou possível a realização de mais de 300 ações voltadas para mitigar os impactos gerados pelo isolamento social nas comunidades onde já atuavam. À distância, também foram as ações de incentivo à leitura, com de lives com contadores de histórias e atividades dos mediadores de leitura do programa para crianças de escolas e entidades. 

A frente de atuação voltada para o desenvolvimento das socioeconomias das comunidades também foi remodelada de forma online e identificou micro e pequenos empreendedores locais para compartilhar seus produtos e serviços com a população por meio de aplicativo de mensagens instantâneas e redes sociais. A entidade ainda estimulou a área de suprimentos da empresa a comprar mais de 60 mil máscaras de tecido de fornecedores locais, como cooperativas, pequenas confecções e grupos de mães. 

Mas o ano também foi de adiamentos, a exemplo do tradicional Prêmio Fundação Bunge, que há 65 anos homenageia initerruptamente profissionais de diversas áreas do conhecimento, e teve que ser postergado para 2021. 

Hoje, na luta contra o tempo para cessar a Covid-19 no mundo, exemplos como estes nos mostram como as organizações sociais têm se mostrado cada vez mais atentas para a realidade de sociedade, buscando adaptar-se a situações adversas. E é neste contexto, em um ano em que o mundo enfrenta uma das maiores ameaças à saúde pública da história moderna, que o senso de urgência tem levado as instituições a fomentarem ainda mais suas ações e promoverem novas iniciativas aos mais afetados, legitimando o seu papel na sociedade. Já dizia o aclamado filósofo francês Pierre Lecomte du Noüy: “não existe outra via para a solidariedade humana senão a procura e o respeito da dignidade individual”.

 * Ruy Altenfelder é curador dos Prêmios Fundação Bunge, Presidente do Conselho Superior de Estudos Avançados (Consea– FIESP), Conselheiro do Instituto Roberto Simonsen e Presidente da Academia de Letras Jurídicas.