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Prêmio Fundação Bunge

Prêmio Fundação Bunge 2024: conheça Durval Dourado Neto

24 de setembro de 2024
Durval Keiny Andrade (26)

Tema: Desenvolvimento e Uso de Tecnologias e Conectividade Acessíveis para a Sustentabilidade no Campo

Categoria: Vida e Obra

Premiado: Durval Dourado Neto

“Conectar o campo significa tornar a nossa agricultura mais sustentável do ponto de vista ambiental e econômico”.

O engenheiro agrônomo Durval Dourado Neto, professor titular da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), é o vencedor do Prêmio Fundação Bunge 2024, na categoria Vida e Obra, cujo tema nesta edição tratou do “Desenvolvimento e Uso de Tecnologias e Conectividade Acessíveis para a Sustentabilidade no Campo”. A premiação reconhece a relevante produção acadêmica de Dourado Neto focada, sobretudo, na digitalização do campo. Entre outras contribuições, ele desenvolveu inovadores modelos de análise que mapeiam a infraestrutura e a cobertura digital disponíveis em regiões agrícolas de todo o Brasil e projetam o impacto da conectividade na produção mais sustentável de alimentos, na geração de renda e bem-estar para o trabalhador rural.  

As pesquisas conduzidas por Durval e seu grupo de pesquisadores mostram que a conectividade no campo ainda é um grande entrave para o agronegócio brasileiro. Ao todo, 66% da área do Brasil tem sinal ruim ou não possui sinal de 3G. No sinal 4G essa situação é ainda pior: 74% da área do país tem sinal ruim ou não possui sinal. Regiões chave para o crescimento do agro brasileiro, como a Centro-Oeste, tem 76% da área sem sinal ou sinal ruim de 3G e 82% sem sinal ou sinal ruim de 4G.

Nascido em Goiânia, filho de um advogado e produtor rural, a opção por se dedicar a uma área do conhecimento ligada ao campo foi uma inclinação natural. Em 1981, iniciava o primeiro ano no curso de Agronomia da Universidade Federal de Viçosa (MG). Formado em dezembro de 1984, em fevereiro do ano seguinte começou a trabalhar na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), estatal onde ficou responsável pela assistência técnica aos agricultores da região.

Um lance de sorte o devolveria aos bancos universitários, empurrando-o definitivamente na direção da carreira acadêmica. A direção da Codevasf ofereceu ao chefe de Dourado Neto a oportunidade de fazer mestrado na Esalq, em Piracicaba (SP), graças a um acordo de cooperação firmado com a Universidade de São Paulo. “Mas o filho do meu chefe estava para nascer, ele havia comprado um pivô central... Acabou que ele declinou do convite e me indicou no lugar”, lembra.

Na Esalq, durante o mestrado, Dourado Neto deu vazão à sua vocação para programação. Criou as primeiras rotinas computacionais para cálculo, elaboração de mapas, variogramas e demais técnicas que fazem parte da agricultura de precisão. Concluído o mestrado em irrigação e drenagem, foi convidado a continuar na Esalq cursando o doutorado. Tornou-se professor do antigo Departamento de Agricultura (hoje Produção Vegetal). Nessa altura, julho de 1989, já havia pedido demissão da Codevasf e abraçado por inteiro a carreira docente, atuando em ensino, pesquisa e extensão universitária.

O doutorado em solos e nutrição de plantas foi defendido em 1992 e, logo em seguida, ele embarcou para a Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, onde fez pós-doutorado em física de solo e modelagem em agricultura. Dourado Neto ocupou diversos cargos de chefia na estrutura universitária. Foi diretor da Esalq, coordenador do Centro de Agricultura Tropical Sustentável da escola, cientista-chefe do Projeto Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Agricultura Digital (CCD-AD/Semear Digital), entre outros cargos.

Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), contabiliza a produção de 287 artigos completos publicados em periódicos científicos, além de 43 livros, entre autoria, co-autoria e organização. Na formação de recursos humanos já orientou 126 alunos na pós-graduação, 73 mestres e 53 doutores.

Atualmente, além das aulas, coordena o Grupo de Políticas Públicas (GPP), núcleo de pesquisa aplicada da Esalq, que gera conteúdo para a formulação e avaliação de políticas públicas na área de agricultura. O GPP também produz informação estratégica para a tomada de decisão de gestores públicos e privados.

À frente do GPP, Dourado Neto vem coordenando diversos estudos ligados à temática do desenvolvimento rural, sobretudo aqueles que tratam de conectividade. O ponto de partida foi o trabalho “Conectividade no Meio Rural”, de 2018, encomendado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). Trata-se do primeiro estudo de abrangência nacional sobre o acesso à Internet no meio rural. Ele mostra a cobertura dos sinais 3G e 4G em todo o Brasil, o posicionamento de cada antena de transmissão de sinais e sua capacidade ociosa. “Trata-se de uma ferramenta de análise territorial que mostra a cobertura digital das áreas rurais e pode oferecer cenários diversos, conforme os dados inseridos no modelo e seu cruzamento com outras informações”, explica Dourado Neto

Esse modelo inicial serviu de base ao estudo encomendado ao GPP pelo Centro de Conhecimento Cooperação Sul-Sul e Triangular (CSST), do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA). Realizado em 2021, “Conectividade Rural e Inclusão Digital como Estratégias para a Democratização da ATER: Oportunidades para o Brasil e Peru” avalia como a inclusão digital no meio rural de ambos os países pode democratizar a Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER). A modelagem mostra a oferta de internet móvel em banda larga no meio rural e analisa a demanda por internet dos agricultores, levando em consideração informações como uso da terra e densidade de imóveis rurais.

Entre 2022 e 2023, o GPP realizou um novo estudo, desta vez a partir de um pedido do Ministério das Comunicações (MCOM) e do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) do governo federal. “Conectividade no Campo: Mapeamento de Demandas, Cenários e Alternativas Tecnológicas”, além de apresentar um mapa atualizado da cobertura disponível, da necessidade de conectividade e das opções acessíveis para ampliar o acesso digital, com o respectivo custo de implantação, trouxe também sugestões de ajustes no marco regulatório da Internet no país.

A marca distintiva desses trabalhos, como do resto da produção científica de Dourado Neto, é a geração de conteúdo de qualidade mostrando os benefícios de universalizar a conexão digital no campo. A análise territorial por meio da modelagem ajuda a definir prioridades e confere mais eficiência às políticas públicas voltadas ao setor.

A digitalização, como lembra Dourado Neto, tem efeito transformador tanto para o agronegócio quanto para a agricultura familiar e para o pequeno produtor rural. “Ela contribuiu na gestão da propriedade, em conteúdo educacional, informativo, ajuda a fixar jovens e suas famílias no campo”, enumera. “Além disso, a conectividade rural viabiliza o uso de novas tecnologias que otimizam a produção e a tornam mais sustentável do ponto de vista econômico e ambiental".

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