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Prêmio Fundação Bunge

Prêmio Fundação Bunge: conheça Fernando Shintate Galindo, homenageado de 2023

25 de setembro de 2023
Fernando Shintate Galindo (1)

Fernando Shintate Galindo era do tipo que sempre voltava sujo da escola. Adorava mexer com terra, abrir buracos no parquinho, cutucar plantas. Ficou fascinado ao ver que um grão de feijão germinava dali uns dias, depois que era colocado sobre o algodão umedecido — aquele experimento que toda criança aprende na escola. Desde muito cedo ficou claro que o seu futuro estaria ligado irremediavelmente à terra, às plantas. O entorno se encarregou do resto.

Caçula “raspa de tacho” de três irmãos, nascido em Ilha Solteira, no interior de São Paulo, cidade que gravita em torno de uma unidade da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ele sabia que um dia estudaria naquele campus como o irmão mais velho, que admirava. Só que, em vez da engenharia elétrica como o mano, optou pela agronomia. Ingressou na graduação em 2009. A paixão virou amor durante o curso, dedicação que foi crescendo ao longo do mestrado e do doutorado. Uma trajetória de 13 anos de pesquisa que acaba de ser reconhecida. 

Galindo foi agraciado com o Prêmio Fundação Bunge, na categoria Juventude, para pesquisadores de até 35 anos, na área “Soluções baseadas na natureza para agricultura sustentável e inclusiva”. O reconhecimento vem pelos seus estudos sobre o uso eficiente de fertilizantes, manejo sustentável de nutrientes e fitotecnia de culturas de grande escala, como soja, milho, cana-de-açúcar, entre outras. “Vejo o Prêmio como uma coroação das escolhas que fiz. Cheguei a flertar com a desistência por conta de dificuldades em alguns momentos. Mas sempre tive a convicção de que essa era a trajetória que queria seguir”, explica o pesquisador que é mestre e doutor em agronomia pela Faculdade de Engenharia da Unesp, em Ilha Solteira, e que no doutorado fez um período sanduíche no Southwest and Outreach Center Research (SWROC), do College of Food, Agricultural and Natural Resources Sciences, da Universidade de Minnesota. 

O jovem cientista é ainda pós-doutor pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), da Universidade de São Paulo (USP), e especialista em solo e nutrição de plantas pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP). 

O que orientou as pesquisas de Galindo é uma necessidade global: o aumento da produção de alimentos. “Estimativas apontam que daqui a 30 anos teremos pelo menos mais 2 bilhões de pessoas no planeta. Para suprir essa demanda temos de aumentar em cerca de 70% a produção de comida. E fazer isso de forma sustentável, sem ter à disposição novas áreas para exploração agrícola, é um desafio tremendo”, avalia.

Os estudos de Galindo giram em torno de bactérias que promovem o crescimento das plantas, um campo de pesquisa – a microbiologia e bioinsumos – em que o Brasil é pioneiro e que tem como referência cientistas como a agrônoma Mariângela Hungria da Cunha, agraciada com o Prêmio Fundação Bunge 2022, na categoria Vida e Obra. “De certa forma, a minha pesquisa complementa o trabalho desses grandes pesquisadores ao focar na aplicabilidade de microrganismos nas grandes culturas”, explica.

De maneira resumida, as bactérias que atuam alimentando as lavouras permitem usar de forma mais eficiente nutrientes, como fertilizantes. Além de selecionar as bactérias que proporcionam esse ganho, o esforço de Galindo foi determinar a redução do uso de fertilizantes em culturas agrícolas que são cultivadas em larga escala como soja, milho, cana-de-açúcar e trigo que receberam a aplicação dos microrganismos. 

Os resultados desses trabalhos mostraram que em lavouras de milho, por exemplo, é possível reduzir em até 25% o uso de adubos nitrogenados com o uso desses microrganismos. Em termos financeiros, essa redução significa cerca de R$ 190 reais por hectare de economia para o produtor rural. Como o Brasil produz 22.000.000 hectares de milho, aproximadamente, o uso dessa tecnologia pelos agricultores brasileiros tem potencial de reduzir os custos de produção em R$ 4 bilhões por ano. 

Engana-se quem pensa, porém, que o uso desses microrganismos na produção agrícola só pode ser feito por grandes produtores rurais. Segundo Galindo, a facilidade da aplicação no campo permite que qualquer escala de produtor se beneficie dessa solução da natureza, já que os microrganismos podem ser misturados nas próprias sementes no momento do plantio ou até mesmo serem aplicados nas lavouras durante as pulverizações com defensivos agrícolas. 

Outro ponto importante levantado pelo jovem cientista brasileiro é a dependência internacional do Brasil por fertilizantes químicos, o que traz impactos em momentos de tensão internacional. “O Brasil é extremamente dependente de fertilizantes. Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, o preço desse produto foi às alturas. Neste cenário, o produtor rural precisou, de fato, reduzir o uso de fertilizantes químicos, o que trouxe uma grande relevância para as tecnologias baseadas na natureza”, explica. 

Além das questões econômicas, a vantagem está também no caráter sustentável da tecnologia do ponto de vista ambiental. O uso excessivo de fertilizante é extremamente prejudicial à natureza pelo risco de contaminação dos lençóis freáticos e pela produção de gases do efeito estufa.

“O principal é que se trata de uma solução baseada na natureza. A bactéria melhora a absorção e a captura do nutriente, minimizando as perdas e o impacto ambiental, ao mesmo tempo em que promove o crescimento da planta, gerando um ganho de produtividade”, diz ele, que atualmente é professor assistente doutor do Departamento de Produção Vegetal, da Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas da Unesp, em Dracena (SP).

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