A cientista brasileira Mariangela Hungria não se conformou quando ao participar de um evento ligado ao setor do agronegócio, em 2022, ouviu de um dos participantes que o agro nada podia fazer para acabar com a fome no Brasil e que o setor já contribui para safras recordes e geração de empregos.
“Fiquei com aquilo na cabeça e falei: eu vou estudar isso, porque não é possível que nós, do agronegócio, não podemos fazer nada para a sociedade acabar com esse problema”, afirmou durante evento de lançamento do livro Segurança “Alimentar e Nutricional: O Papel da Ciência Brasileira no Combate à Fome", nesta quinta-feira (18), em São Paulo, na Sede da Fundação Bunge.
O inconformismo de Hungria, pesquisadora brasileira premiada no Brasil e no mundo por seus estudos com bioisumos na soja, a fez reunir um time de peso, composto por 41 cientistas, de 23 instituições brasileiras para mostrar como todas as ciências podem contribuir para acabar com a fome no país.
“Coloquei o desafio para que cada um dos 19 capítulos do livro terminasse com propostas efetivas para erradicarmos esse problema. É um plano de governo pronto, para qualquer representante do executivo”, afirma. A obra, organizada pela Academia Brasileira de Ciências, pode ser baixada aqui: https://www.abc.org.br/wp-content/uploads/2024/03/Seguranca-Alimentar-e-Nutricional-O-Papel-da-Ciencia-Brasileira-no-Combate-a-Fome-LIVRO-ABC-2024.pdf
Reconhecido por ser o maior produtor de alimentos no mundo, o Brasil vive uma contradição em relação à segurança alimentar. De um lado, tem capacidade para produzir alimentos suficientes para alimentar 800 milhões de pessoas, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mas por outro, possui uma população de 125 milhões de pessoas que não sabem se vão comer, de acordo com dados de 2021 e 2022 da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (PENSSAN).
O evento de lançamento do livro em São Paulo contou com a participação de representantes do governo, iniciativa privada, terceiro setor, academia e sociedade civil. Entre os participantes, estavam o ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues; a presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader; a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá; o superintendente do MAPA, Guilherme Campos Júnior, que representou o ministro Carlos Fávaro; a coordenadora de Segurança Alimentar da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Camila Kanashiro, representando o secretário Guilherme Piai; a presidente do conselho administrativo da Fundação Bunge, Andrea Marquez, além de cientistas como Eduardo Assad, Silvio Crestana, Adalberto Luis Val, Vera Lucia Imperatriz Fonseca e João Meirelles.
Problema complexo, que precisa do trabalho em conjunto
Cláudia Calais, diretora-executiva da Fundação Bunge e uma das autoras do livro, lembrou que a fome é um problema complexo e multifatorial e que, por isso, o trabalho em conjunto entre diversos entes da sociedade é fundamental para sua solução. “A gente ainda tem pouca capacidade de trabalhar em conjunto, fazer o que estamos fazendo aqui hoje, reunindo ciência, setor produtivo e terceiro setor para discutir um único tema. Problemas complexos exigem soluções complexas e elas necessariamente precisam do envolvimento de mais de um. Nós, do terceiro setor, aprendemos a fazer isso muito cedo e acho que está na hora de termos isso também com os outros setores, de sentarmos juntos”, disse.
“Juntando forças nós somos mais. Se queremos continuar sendo o celeiro do mundo, vamos precisar ter investimento. Educação e ciência não são gastos, são investimentos. O Brasil foi extremamente relevante para a criação da Agenda 2030 da ONU com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e um desses objetivos é justamente a ‘fome zero e agricultura sustentável’. Só faltam sete anos para chegarmos em 2030”, alertou Helena Nader, presidente da ABC.