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Ciências Agrárias: O Impacto das Mudanças Climáticas na Produção de Alimentos

Prever cenários, antecipar dificuldades e tomar as medidas necessárias para contorná-las, com base no conhecimento mais consolidado, a cada momento. Na história da humanidade, é assim que a Ciência tem nos permitido superar os mais graves desafios que se apresentam, com o mínimo de perdas, e é assim que ela seguirá sendo o mais valioso recurso de que dispomos para garantir o melhor futuro possível.

Em um mundo que há dois anos contabilizava quase 750 milhões de pessoas passando fome – ou cerca de 2 bilhões, se consideradas também as pessoas em estado de “moderada” insegurança alimentar, de acordo com os critérios da FAO (agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) –, a produção de alimento suficiente e de qualidade para todos representa objetivo essencial à vida humana. Mais que isso: se a intenção é zerar os números atuais da fome até 2030 – um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pelas Nações Unidas –, além de essencial, a solução se faz urgente.

É por isso – e pela tradição de todo ano prestigiar as Ciências Agrárias nacionais, ao lado de algum outro ramo das Ciências, das Letras e das Artes – que o Prêmio Fundação Bunge elege como um dos temas de 2021 O Impacto das Mudanças Climáticas na Produção de Alimentos.

De modo geral, é consenso na comunidade científica que a origem das mudanças climáticas está na ação do homem. No início do século XXI, já não resta mais dúvida de que as atividades humanas têm sobrecarregado a atmosfera com gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2) ou o metano (CH); que a alta concentração desses gases tem feito a temperatura média da Terra se elevar, ano após ano; e que esse aquecimento tem implicações diversas – e não de todo conhecidas – sobre todos os organismos vivos e cadeias biológicas do planeta. O que, no fim das contas, reflete-se no que conseguiremos produzir para alimentar 7,5 bilhões de pessoas (ou 10 bilhões, até o meio do século).

Enquanto os termômetros indicam temperaturas mais altas, lavouras se tornam menos produtivas e mais vulneráveis a patógenos; solos se tornam menos férteis; corpos d’água se tornam mais desafiadores para milhares de espécies aquáticas, que sucumbem ou têm severamente diminuídas suas taxas de reprodução. Isso para não falar nos eventos extremos, como secas ou chuvas torrenciais que, com cada vez mais frequência, atingem regiões ou nações inteiras.

Mas essa é a má notícia. A boa é que a Ciência não está parada. Em todo o mundo e também no Brasil, há uma legião de homens e mulheres dedicados não apenas a solucionar os problemas conhecidos – buscando espécies capazes de resistir às condições ambientais adversas trazidas pelo aquecimento global, desenvolvendo produtos e processos que ajudem a reduzir esse aquecimento –, mas também, principalmente, dedicados a conhecer os impactos que ainda virão. São pesquisadores e pesquisadoras que buscam prever cenários e antecipar dificuldades, para orientar as medidas que devem ser tomadas na cadeia produtiva que alimenta o mundo.

Trata-se de um empreendimento de dimensão global, que exige visão multidisciplinar. Como diz o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e membro do Conselho Administrativo da Fundação Bunge Adalberto Luis Val, “precisamos conhecer os efeitos individualizados da temperatura ou do CO2 num processo fisiológico, numa determinada rota metabólica ou se determinada espécie cresce menos ou mais; mas precisamos começar a avaliar, também, as situações mais holisticamente, para desenvolver sistemas que possam sobreviver a essas mudanças ambientais todas com mais produtividade, sem deixar ninguém para trás”.

Segundo o biólogo, é preciso “entender o sistema a partir do que conhecemos, sistematizar o vasto conjunto existente de informações técnico-científicas, para agir com segurança”, mas também é preciso não parar de fomentar a produção de novo conhecimento. “A boa Ciência produz a informação que vamos precisar no momento seguinte. É preciso entender que a Ciência não pode ficar desassistida e só ser ativada na hora em que acontece o desafio”. Seja esse desafio vencer a insegurança alimentar que acomete bilhões, seja combater as causas das mudanças climáticas.

Ou, mesmo, proteger a humanidade de outros inimigos não menos letais, como o vírus da Sars-CoV-2. Que, aliás, não deixou de ter efeitos danosos também no estado de segurança alimentar e nutricional do mundo, com avaliações preliminares da FAO revelando que a pandemia da COVID-19 pode ter acrescentado entre 83 e 132 milhões de pessoas ao total de malnutridos no planeta, em 2020.

Assim, enquanto o mundo enfrenta uma das maiores ameaças à saúde pública da história moderna, a Fundação Bunge não poderia deixar de homenagear também profissionais da área das Ciências Biológicas, Ecológicas e da Saúde, especificamente aqueles dedicados à Prevenção de Doenças Infecciosas, o outro tema do Prêmio Fundação Bunge em sua 65a edição. Em tempos desafiadores, a produção de alimentos e a prevenção de doenças devem andar de mãos dadas, tanto para garantir a segurança alimentar de todos como para reduzir o impacto das infecções virais. Para isso, a presença firme e competente da Ciência – com a inclusão e o apoio do maior número possível de pessoas – se faz necessária.