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Prêmio Fundação Bunge

Conheça Mariângela Hungria da Cunha, contemplado do PFB 2022

09 de novembro de 2022
GER 4293

Prêmio Fundação Bunge 2022

Crédito de Carbono e Agricultura Regenerativa – Vida e Obra

Premiada: Mariângela Hungria da Cunha

“Se o Brasil hoje é referência em pesquisa, produção industrial e legislação sobre bioinsumos, isso não é fruto do acaso, mas resultado de décadas de investimento em ciência”

A professora e pesquisadora Mariângela Hungria da Cunha é uma prova viva de como é importante incentivar a curiosidade científica desde a infância.

Mariângela nasceu em uma família de educadores e teve em sua avó, dona Edina, uma grande referência. Farmacêutica e professora de ciências no então curso primário, dona Edina despertou em Mariângela desde cedo o encanto pelo estudo da natureza. Explicava-lhe o que são as marés, como se formam as ventanias, porque as plantas crescem. Juntas, as duas brincavam de fazer experimentos científicos no quintal de casa.

Um dia, aos oito anos, Mariângela ganhou de sua avó um livro sobre a história dos microbiologistas. Sua vida foi transformada. O fascínio pelas bactérias, vírus e demais microrganismos calou fundo em sua alma e Mariângela decidiu que, de alguma maneira, trabalharia com aquele tema no futuro.

Os anos se passaram, ela concluiu o ensino básico como bolsista do tradicional colégio Rio Branco, em São Paulo, e decidiu cursar agronomia, mesmo contrariando amigos e parentes, que consideravam a área pouco promissora. Mariângela não vinha de uma família de produtores rurais; escolheu o curso por vocação. Era uma maneira de aliar seu interesse pelas ciências naturais ao desejo de trabalhar com algo prático.

No curso de agronomia, ela pôde enfim cumprir sua resolução de infância, ingressando em um estágio no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), hoje integrado à Universidade de São Paulo, para estudar a fixação biológica do nitrogênio. Foi o primeiro passo para que o fascínio da leitora curiosa de oito anos se transformasse em uma carreira brilhante de quatro décadas dedicadas ao aperfeiçoamento do campo da microbiologia no Brasil.

Mariângela é doutora pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e pós-doutora pelas universidades de Cornell (EUA), da Califórnia (EUA) e de Sevilha (Espanha). Ao longo dessa trajetória, ela se dedicou à temática da biotecnologia do solo, buscando principalmente maneiras de fazer com que microrganismos atuem como substitutos dos fertilizantes químicos.

A lavoura depende do uso de fertilizantes. “Uma plantação não é como uma floresta, em que tudo está em equilíbrio”, explica. “A lavoura consome muitos nutrientes, o faz de maneira desigual e não devolve quase nada ao solo. Logo, a agricultura sempre precisou e sempre irá precisar de fertilizantes”.

O problema, segundo ela, é que a cadeia de produção dos fertilizantes químicos provoca enorme impacto ambiental. “Para produzirmos 1kg de nitrogênio, que é uma das substâncias mais utilizadas como insumo agrícola, lançamos na atmosfera mais de 10kg de gás carbônico”, diz.

A microbiologia oferece uma rota mais sustentável. Mariângela procurou entender como os microrganismos podem realizar a síntese e fixação biológica de certos nutrientes no solo, tornando dispensável o uso dos fertilizantes químicos. Sua pesquisa provou que a fixação biológica pode ser mais eficiente que os métodos tradicionais de preparo da terra, além de produzir menos impacto ambiental e contribuir para que o país se torne menos dependente da importação de insumos agrícolas sintéticos.

Dada a importância e pioneirismo desse trabalho, o nome de Mariângela foi uma escolha óbvia para a categoria “Vida e Obra” do Prêmio Fundação Bunge 2022 para cientistas da área de Crédito de Carbono e Agricultura Regenerativa. Esse prêmio se soma a um conjunto enorme de honrarias já recebidas por ela, dentre as quais a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (2018) e um prêmio da Academia Mundial de Ciências (2020), além da menção na lista da Universidade de Stanford de cientistas mais influentes do mundo.

Pesquisadora da Embrapa, professora na Universidade Estadual de Londrina (UEL), membro da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, da qual foi presidente entre 2011 e 2003, da Sociedade Brasileira de Microbiologia e do comitê de projetos da Fundação Bill & Melinda Gates, Mariângela é dona de uma produção científica impressionante. São cerca de 500 artigos, livros e capítulos de livros publicados, 600 participações em eventos do ramo e mais de 20 tecnologias criadas com base em suas contribuições.

Segundo ela, o Prêmio Fundação Bunge representa fechamento de um ciclo. Mariângela conta que está iniciando uma associação para ajudar jovens pesquisadoras em início de carreira. A ideia surgiu da percepção de que ela própria, sem o incentivo de pessoas próximas, como a sua avó, e de programas públicos de fomento à ciência, dificilmente teria chegado tão longe. Seu objetivo é garantir que outras mulheres tenham as mesmas oportunidades.

Esse gesto, que alia o compromisso inabalável com o desenvolvimento científico e tecnológico do país a uma enorme sensibilidade social, de certa forma resume porque a neta de dona Edina pôde construir uma trajetória tão brilhante.

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